05 fevereiro 2020

Abortamento


Interrupção da gravidez antes das 20 - 22 semanas de gestação ou expulsão do feto com menos de 500gr. Pode ser espontâneo ou provocado (quando medicamento ou manobra, o induziu).

Incidência
15% de todas as gestações terminam espontaneamente entre a 4ª e 20ª semana de gestação. Antes de 4 semanas estas cifras são mais elevadas (40a 45%), porém não se faz o diagnóstico.

Em ¾ das observações os abortos são precoces (até 12 semanas) e, na parcela restante, rotulado tardio (após 12 semanas).

Etiologia

Causas embrionárias ou fetais:
  • Cromossomopatias (principal causa de abortamentos precoces);
  • Ovopatias.
Causas maternas
  • Ginecopatias; 
  • Doenças Sistêmicas; 
  • Infecções; 
  • Fatores Hormonais; 
  • Mecanismos Imunológicos; 
  • Traumatismos e outros.
Propedêutica
  • Presença de gravidez (História Clínica, ßHCG e USG);
  • Volume uterino (USG e Toque combinado);
  • Perdas Vaginais (sangramento ou partes fetais);
  • Características cervicais (dilatação);
  • Exame especular (constatar a origem intra-uterina do sangramento).
Exames complementares
  • Tipagem Sanguínea - Hemograma completo (rastrear perdas e processo infeccioso);
  • Beta HCG sérico;
  • Ultra-sonografia (vitalidade do concepto, presença de restos ovulares, idade gestacional);
Diagnóstico diferencial
  • Doença Trofoblástica Gestacional;
  • Gravidez ectópica;
  • Patologias benignas do trato genital inferior (lacerações do colo ou vagina, erosões cervicais, pólipos);
  • Patologias malignas (que causem sangramento, principalmente do colo uterino).
Tipo de abortamento

👉Ameaça de aborto

Sangramento genital de intensidade variada e dor em baixo ventre.

Ao exame: colo fechado, útero de volume compatível com a idade gestacional.

👉Abortamento em curso

Sangramento genital e dor pélvica tipo cólica (ambos de intensidade variável). 

Ao exame: fundo uterino compatível com idade gestacional, colo uterino dilatado, tocando-se por vezes parte do ovo.

👉Aborto incompleto

Perda sanguínea e dor tipo cólica (ambos de intensidade variável).

Ao exame: colo uterino aberto, identificação de restos ovulares ao toque, fundo uterino menor que o esperado para a idade gestacional.

👉Aborto Completo

História clínica retrospectiva: paciente informa sangramento e cólicas, expulsão de material embrionário e logo após diminuição ou cessação da sintomatologia.

Ao exame: colo uterino fechado, útero menor que o esperado para a idade gestacional, sangramento ausente ou em dedo de luva. Diagnóstico confirmado através de ultrassonografia.

👉Aborto retido

Na maioria das vezes, achado ultra-sonográfico. Paciente pode referir desaparecimento abrupto dos sinais e sintomas próprios da gravidez.

Ao exame: útero pode se apresentar compatível ou menor que o esperado para a idade gestacional; sangramento se presente, discreto; colo fechado.

Em gestações incipientes se aconselha a realização de ultrassonografia e dosagem sérica de Beta HCG seriados para confirmar o diagnóstico (tempo em que a maioria dos casos se resolve espontaneamente).

👉Aborto infectado

Qualquer das formas do abortamento, acompanhadas por febre, fluxo vaginal com odor fétido e dor à mobilização uterina.

Podemos também observar: Sudorese e calafrios, Taquicardia, Taquisfigmia e Taquipnéia; Cianose; Icterícia; Agitação; Hipotensão e Choque, dependendo da gravidade.

O útero geralmente se encontra amolecido; poderá haver sinais de irritação peritonial (abdome agudo infeccioso). Grito de Douglas - pensar em abscesso em fundo-de-saco.

Tratamento

Ameaça de aborto

→Tratamento ambulatorial exceto em situações de sangramento de vulto.

Aconselha-se: repouso, abstinência sexual, antiespamódicos caso necessário, apoio emocional.

Abortamento em curso

→Internamento, Tipagem Sanguínea - Hemograma (rastrear perdas e processo infeccioso);

→Repor perdas, caso necessário;

→Promover analgesia;

Aguardar evolução do trabalho abortivo, procurando assim evitar a dilatação instrumental do colo uterino, principalmente nos abortos tardios (superiores a 12 semanas), só se praticando o esvaziamento uterino após a expulsão do concepto. Se paciente Rh Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D (300 microgramas IM).

Aborto incompleto
  • Internamento;
  • Tipagem Sanguínea - Hemograma (rastrear perdas e processo infeccioso);
  • Repor perdas, caso necessário;
  • Esvaziamento uterino.Se paciente Rh Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D.
Aborto completo

→Expectação em nível ambulatorial.

Aborto retido
  • Internamento, em gestações superiores a 12 semanas, realizar estudo da coagulação;
  • Indução do trabalho abortivo;
  • Esvaziamento uterino, que só deve ser realizado após a expulsão do concepto, caso a gestação seja superior a 12 semanas;
  • Se paciente Rh Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D (300 microgramas IM).
Aborto infectado
  • Internação;
  • Solicitação de Exames: Hemograma Completo, Tipagem Sanguínea, Estudos da Coagulação, Sumário de Urina; Uréia, Creatinina, Bilirrubinas (total e frações), nos casos mais graves (suspeita de peritonite e/ou septicemia);
  • Punção de veia de grosso calibre com agulha calibrosa (reposição de líquidos e hemoderivados caso necessário);
  • Cateterismo vesical com sonda de Foley nos casos mais graves;
  • Hidratação com Solução Fisiológica 0,9% (manter diurese > 30 ml/hora);
  • Iniciar antibioticoterapia de largo espectro (anaerobicida + aminoglicosídeo, caso necessário acrescentar ampicilina - ação contra enterococos);
  • Providenciar esvaziamento uterino de acordo com a evolução do quadro abortivo;
  • Administrar substâncias ocitócicas com a finalidade de promover um esvaziamento uterino mais seguro;
  • Manter terapia endovenosa por 24 a 48 horas após o último pico febril;
  • Quadro febril persistente pensar em complicações clínicas (antibioticoterapia inadequada, tromboflebite pélvica) e cirúrgicas (perfuração uterina, abscessos);
  • A laparotomia deve ser reservada para casos graves (massas anexiais, perfuração uterina, sepse, gangrena uterina), sempre pensar na possibilidade da realização de histerectomia total e por vezes pode também se tornar necessário a ablação dos anexos;

Aguardar evolução do trabalho abortivo, procurando assim evitar a dilatação instrumental do colo uterino, principalmente nos abortos tardios (superiores a 12 semanas), só se deve manipular a cavidade uterina após a expulsão do concepto. 

Se paciente Rh Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D (300 microgramas IM).

Indução

➡MISOPROSTOL - 200mcg (1 comprimido) por via vaginal a cada 6 horas; procurar depositar o comprimido no fundo do saco posterior;

➡OCITOCINA - 20 U (4 ampolas) associadas em 500 ml de solução fisiológica ou glicosada a 5%, infundindo 8 gotas/min, aumentando 4 gotas a cada hora até se atingir a atividade contrátil uterina.

Observação: extrema cautela durante a utilização de substâncias ocitócicas, principalmente naquelas pacientes com história de cicatriz uterina anterior.

Técnicas de esvaziamento uterino:


Curetagem uterina

Realizada manualmente, com a introdução dos dedos indicador e médio envolvidos em gaze através do colo uterino, procurando remover restos placentários. 
Indicada em casos de abortos tardios com útero volumoso e permeabilidade total do colo uterino. Na maioria das vezes se torna necessário a complementação com curetagem mecânica.

Curetagem mecânica
  • Esvaziamento vesical;
  • Posição adequada;
  • Anestesia;
  • Assepsia e anti-sepsia da genitália;
  • Toque bimanual (volume e posição do corpo uterino, condições cervicais);
  • Inserção de especulo, exposição e pinçamento do colo uterino;
  • Dilatação instrumental do colo, caso necessário (Velas de Hegar); - Utilização da pinça de restos;
  • Seleção das curetas;
  • Raspagem no sentido horário;
  • Retirar a cureta o menos possível;
  • Atenção para o fundo uterino e cornos uterinos;
  • Empunhadura cuidadosa da cureta;
  • Uso de uterotônicos;
  • Anatomia Patológica em casos suspeitos de doença trofoblástica gestacional.
Aspiração manual intra-uterina (AMIU)

Método de preferência para a prática do esvaziamento uterino, importante passo para a Humanização do tratamento do aborto;

Em relação à curetagem mecânica, apresenta as seguintes vantagens:
  • Possibilidade de ser realizada em nível ambulatorial;
  • Menor tempo de hospitalização;
  • Mais rápida;
  • Menos traumática;
  • Menor incidência de perfuração;
  • Menor sangramento;
  • Menor incidência de infecção.
Histerotomia

Indicação restrita a casos extremos onde exista impossibilidade de esvaziamento através do colo uterino; mortalidade maior em 44 vezes quando comparado com dilatação e curetagem no primeiro trimestre.

Complicações
  • Perfuração uterina (1;111 a 1:2500);
  • Lacerações cervicais;
  • Lesões estruturais do Orifício Interno do colo uterino;
  • Dano ao endométrio;
  • Sinéquia uterina;
  • Infecção.
Conduta na perfuração uterina
  • Não manipular com pinça de restos;
  • Concluir a curetagem delicadamente;
  • Utilizar substâncias ocitócicas;
  • Monitorizar a paciente clinicamente e laboratorialmente (hemograma);
  • Antibioticoterapia profilática;
  • Caso apresente sinais de abdome agudo a laparotomia é indicada com a finalidade de se praticar a histerorrafia e pesquisar lesões em órgãos vizinhos.
  • Quando necessário o esvaziamento pode ser completado através da lesão uterina antes de se praticar a histerorrafia.
Antibioticoterapia no aborto infectado/antibiótico dose administração duração:

➡Gentamicina 1,5 mg/kg a cada 8 horas EV, IM - 7-10 dias
➡Clindamicina 600 a 900 mg a cada 6 horas EV - 7-10 dias
➡Amicacina 15 mg/kg/dia a cada 12 horas IM, EV - 7-10 dias
➡Metronidazol 500 mg a 1 g a cada 6 horas EV - 7-10 dias
➡Ampicilina 1 g a cada 6 horas EV - 7-10 dias


04 fevereiro 2020

Tétano Neonatal

O Tétano neonatal é uma doença infecciosa aguda, grave, não contagiosa, que acomete o recém-nascido (RN), nos primeiros 28 dias de vida, tendo como manifestação clínica inicial a dificuldade de sucção, irritabilidade e choro constante. A doença é causada por uma bactéria chamada Clostridium tetani.

A suscetibilidade do Tétano Neonatal é universal, afetando recém-nascidos de ambos os sexos. A doença não confere imunidade. A imunidade do recém-nascido é conferida pela vacinação adequada da mãe. Os filhos de mães vacinadas nos últimos cinco anos com três doses da vacina apresentam imunidade passiva e transitória até dois meses de vida.

A imunidade passiva, por meio do soro antitetânico (SAT), dura em média duas semanas e pela imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT) cerca de três semanas.

IMPORTANTE:  O tétano neonatal acomete os filhos de mãe sem esquema vacinal completo e atualizado.

Transmissão

➠O tétano neonatal não é transmitido de pessoa a pessoa e sim pela contaminação do coto umbilical com os esporos da bactéria, que podem estar presentes em instrumentos não esterilizados e utilizados para secção do cordão umbilical, como tesoura e fios para laqueadura do cordão.

➠Os esporos da bactéria também podem estar presentes em produtos do hábito cultural das populações, utilizados no curativo umbilical, como ervas, chás, pós e pomadas, entre outros.

Fatores de risco

São fatores de risco para o tétano neonatal as seguintes situações:

→Baixas coberturas da vacina antitetânica em mulheres em idade fértil;

→Partos domiciliares assistidos por parteiras tradicionais ou outros sem capacitação e sem instrumentos de trabalho adequados;

→Oferta inadequada de pré-natal em áreas de difícil acesso;

→Baixa qualificação do pré-natal;

→Alta hospitalar precoce e deficiente acompanhamento do recém-nascido e da puérpera;

→Hábito cultural inadequado, associado ao deficiente cuidado de higiene com o coto umbilical e higiene com o recém-nascido;

→Baixo nível de escolaridade das mães;

→Baixo nível socioeconômico;

→Baixa qualidade da educação em saúde.

Sintomas

O recém-nascido apresenta, em caso de tétano neonatal, os seguintes sinais e sintomas:
  • Choro excessivo;
  • Dificuldade para mamar e abrir a boca;
  • Irritabilidade;
  • Quando há presença de febre, ela é baixa;
  • Contraturas musculares ao manuseio ou espontâneas.
IMPORTANTE: O fato de não existir infecção no coto umbilical, não afasta a confirmação do tétano neonatal.

Diagnóstico

O diagnóstico do tétano neonatal é essencialmente clínico e não existe exame laboratorial específico para confirmação do diagnóstico. Exames laboratoriais são realizados apenas para controle das complicações e respectivas orientações do tratamento.

Diagnóstico Diferencial do Tétano Neonatal

➥Septicemia – na sepse do RN pode haver hipertonia muscular, porém o estado geral é grave e cursa com hipertermia ou hipotermia, alterações do sensório e evidências do foco séptico (diarreia, onfalite, etc.). O trismo não é frequente nem ocorrem os paroxismos espásticos.

➥Encefalopatias – podem cursar com hipertonia e o quadro clínico geralmente é evidente logo após o nascimento havendo alterações do sensório e crises convulsivas. O trismo não é uma manifestação frequente.

➥Distúrbios metabólicos – hipoglicemia, hipocalcemia e alcalose.

Outros diagnósticos diferenciais – principalmente, epilepsia, lesão intracraniana por traumatismo do parto, peritonites, onfalites e meningites.

Tratamento

O tratamento do tétano neonatal deve ser sempre em ambiente hospitalar. O paciente deve ser internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou em enfermaria apropriada, acompanhado por uma equipe médica e de enfermagem experiente e treinada na assistência dessa enfermidade, o que pode reduzir as complicações e a letalidade. 

➽É necessário a administração de imunoglobulina humana antitetânica ou soro antitetânico, antibiótico, sedativos e outras medidas de suporte que o caso exigir.

➽Com base na literatura, recomendam-se os princípios básicos do tratamento do tétano neonatal ressaltando que a adoção destas medidas terapêuticas é da responsabilidade médica, tendo o intuito de curar o paciente, diminuir a morbidade e a letalidade causada pela doença. Dessa forma, o tratamento consiste em:

➨Sedação do paciente antes de qualquer procedimento (sedativos e miorrelaxantes de ação central ou periférica).

➨Adoção de medidas gerais que incluem manutenção de vias aéreas permeáveis (entubar para facilitar a aspiração de secreções),hidratação, redução de qualquer tipo de estímulo externo, alimentação por sonda e analgésicos.

➨Utilização de IGHAT ou, em caso de indisponibilidade, administração do SAT.

➨Antibioticoterapia: os fármacos de escolha são a penicilina G cristalina ou metronidazol. Não há evidências suficientes que sustentem a superioridade de uma droga em relação à outra, embora alguns dados mostrem maior benefício com o uso do metronidazol.

IMPORTANTE: Outros sedativos e anticonvulsivantes (curare, hidrato de cloral a 10%, fenobarbital) poderão ser utilizados a critério médico.

Atendimento durante o parto e puerpério

➪O atendimento higiênico ao parto é medida fundamental na profilaxia do tétano neonatal. O material utilizado, incluindo instrumentos cortantes, fios e outros, deve ser estéril para o cuidado do cordão umbilical e do coto. 

➪As mães e os responsáveis devem ser orientados em todas as oportunidades sobe os cuidados com os recém-nascidos e o tratamento higiênico do coto umbilical com álcool a 70%. A consulta do puerpério é de extrema importância para orientações e detecções de práticas que predispõem à doença, bem como para a atualização do calendário vacinal tanto da mãe como da criança.

Prevenção

➡A vacina antitetânica (esquema completo e atualizado) tem uma eficácia de quase 100% na prevenção do Tétano Neonatal. Além da vacina, o parto limpo (asséptico), cuidados higiênicos e adequados com o coto umbilical são fundamentais na prevenção da doença.

Pré-Natal

👍A realização do pré-natal é extremamente importante para prevenir o tétano neonatal.




03 fevereiro 2020

Seroma

O seroma é uma complicação que pode ocorrer após qualquer cirurgia, sendo caracterizada pelo extravasamento de um líquido semelhante ao plasma, que se acumula abaixo da pele, na região da cicatriz cirúrgica.
Esse acúmulo de líquido é mais comum após cirurgias em que houve corte e manipulação da pele e do tecido gorduroso, causando inflamação. Ocorre após alguns dias da cirurgia e pode demorar semanas para desaparecer totalmente.

Sinais e sintomas:

➥Saída de líquido claro ou transparente pela cicatriz;
➥Inchaço e flutuação locais;
➥Abaulamento da cicatriz;
➥Flutuação no local da cicatriz;
➥Dor na região da cicatriz;
➥Pele avermelhada e aumento da temperatura ao redor da cicatriz.

Tratamento
➨Punção do líquido por meio de agulhas;
➨Colocação de um dreno;
➨Uso de analgésicos e anti-inflamatórios;
➨Uso antibiótico preventivamente, uma vez que o seroma é um excelente meio de cultura para bactérias.

Complicações
👉Caso não seja absorvido espontaneamente ou não for drenado, pode se tornar em uma cápsula fibrosa envolvendo do o local da incisão, logo tratamento adequado tem de ser cirúrgico.


👉O excesso de líquido no seroma pode levar a um aumento de pressão local, podendo ocasionar:

  • Necroses;
  • Infecções;
  • Deiscências.
Prevenção
Embora seja uma complicação bastante comum, pode ser evitada com alguns cuidados:
⇢Curativos compressivos;
⇢Utilizar uma cinta por cima do local da cicatriz;
⇢Repouso.



01 fevereiro 2020

Trauma Facial

Trauma facial trata-se de qualquer ferimento físico localizado na face, podendo afetar, consecutivamente, sua pele, gordura, músculos, nervos e ossos e, nos casos mais graves, se associar a dano cerebral. O trauma facial pode acarretar em perda de sensibilidade na pele, cicatrizes anti-estéticas, retrações, lesões na visão, dificuldade na respiração, paralisia facial e perdas dentárias.


O trauma é um problema mundial de saúde pública. As lesões por trauma intencional ou acidental afetam crianças, adolescentes, adultos jovens e idosos são as principais causas de morte entre pacientes de 1 a 44 anos e a quarta maior causa considerando-se todas as faixas etárias. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), as lesões em cabeça e face podem representar metade das mortes traumáticas.

Considerações anatômicas

O tipo de fratura do esqueleto facial e sua extensão são determinados por fatores anatômicos de forma, tamanho, densidade das estruturas ósseas e suas relações com cavidades ósseas, estruturas musculares e tecido mole que o reveste. Isso vai influenciar no maior ou menor deslocamento dos segmentos fraturados ou proteção da estrutura óssea.

➡A cabeça é constituída pelos ossos do crânio e ossos da face. 

➡O crânio ou neurocrânio, como é chamado, delimita a cavidade craniana, local onde se encontra o encéfalo e as meninges, estruturas do Sistema Nervoso Central (SNC). É constituído pelos ossos:

Frontal, Parietais, Temporais, Esfenoide, Etmoide e Occipital.
O arcabouço facial, viscerocrânio, constitui-se pelos ossos:

Mandíbula, Vômer, Conchas nasais inferiores, Lacrimais, Nasais, Zigomáticos (ou malares), Palatinos, Maxilas e osso hioide.



Ossos da face

Mandíbula - é um osso ímpar e móvel, articula-se com os temporais através dos côndilos, formando a articulação têmporo-mandibular (ATM). A mandíbula consta de um corpo, em forma de ferradura, que apresenta os alvéolos da arcada dentária inferior, e dois ramos, continuação do corpo numa angulação conhecida como ângulo da mandíbula. O ramo da mandíbula apresenta um côndilo, que se articula com a fossa mandibular do temporal, e um processo coronóide; entre o côndilo e o processo coronóide há uma incisura mandibular.

Vômer - é um pequeno osso situado na face inferior do crânio, onde se articula com o osso esfenoide; possui uma lâmina que, juntamente com a lâmina perpendicular do osso etmoide, concorre para a formação do septo nasal ósseo.
Conchas nasais inferiores - são ossos independentes, laminares, situados na cavidade nasal, podem ser observadas através da abertura piriforme do nariz.

Lacrimais - estão situados na parte anterior da parede medial da órbita, e delimitam a fossa do saco lacrimal, que se continua no canal naso-lacrimal, que se abre no meato inferior da cavidade nasal.

Nasais - os ossos nasais, direito e esquerdo, articulam-se entre si no plano mediano, formam o esqueleto ósseo de parte do dorso do nariz.

Zigomáticos (ou malares) - os ossos zigomáticos, direito e esquerdo, são duas massas ósseas salientes que formam as proeminências da face; através do seu processo temporal do osso zigomático, que se articula com o processo zigomático do osso temporal, forma o arco zigomático; limitam a órbita juntamente com a maxila.

Palatinos - direito e esquerdo, são dois pequenos ossos em forma de L, com uma lâmina horizontal e outra, lâmina vertical, localizados atrás das maxilas e anteriormente aos processos pterigóides do osso esfenoide, participam da delimitação das cavidades bucal, nasal e orbitária.

Maxilas - direita e esquerda, ocupam quase toda a face, formando o maxilar. Cada maxila apresenta um corpo, um processo frontal, que se articula com o osso frontal, um processo palatino que, juntamente com a lâmina horizontal do osso palatino, forma o palato duro; processo alveolar, em cujos alvéolos estão implantados os dentes, e um processo zigomático.

Osso hioide - é um osso pequeno, em forma de ferradura, ímpar, e não pertence nem ao crânio nem à face, estando situado na região do pescoço, abaixo da mandíbula e acima da cartilagem tireoide da laringe.


Classificação
  • Fratura nasal;
  • Fratura alvéolo dentária;
  • Fratura de mandíbula;
  • Terço médio da face.
➠Fratura naso-orbitoetmoidal - A fratura ocorre quando há o envolvimento da estrutura nasal, da maxila e órbita. São fraturas complexas e necessitam de cirurgia sob anestesia geral para redução e fixação das fraturas. Geralmente, ocorre em trauma de alto impacto e muitas vezes há fraturas e lesões concomitantes em outras partes do corpo.

➠Fratura do zigoma.

Os danos do tecido mole incluem:
  • Abrasão dentária;
  • Lacerações;
  • Extirpação, contusão e outros.
➠Em fraturas faciais, os ossos mais acometidos são geralmente os ossos nasais, enquanto que o arco zigomático se encontra em segundo lugar e o osso frontal o mais resistente de todos os outros.

Causas

A causa mais frequente de fraturas e ferimentos faciais graves ainda São:

→Acidente automobilístico;
→Ferimentos por arma de fogo;
→Ferimento por arma branca;
→Agressões Físicas, 
→Acidentes domésticos (quedas em escadas, jardins, colégio, praça, etc.),
→Acidentes no trabalho e trauma esportivo.

Recém-nascidos podem sofrer fraturas nasais em seus partos por conta da força na expulsão ou por conta do uso de fórceps.

Os segmentos da população mais afetados são os adolescentes e os adultos jovens.

Sinais e sintomas

As fraturas dos ossos faciais, como em outras fraturas, podem estar relacionadas a dor e inchaço dos tecidos circundantes (tais sintomas podem ocorrer na ausência de fraturas também).

➪Fraturas nasais, na base do crânio ou na maxila podem estar associadas a hemorragias profusas.

➪Deformidades na face, como um osso malar (zigomático) afundado ou dentes que não estão alinhados corretamente, sugerem a presença de fraturas.

➪Assimetrias podem sugerir a fraturas faciais ou danos a determinados nervos do rosto. Sujeitos com fraturas mandibulares possuem, frequentemente, dores e dificuldades em abrir e fechar a boca, e podem ter dormência no lábio e no queixo.

➪Comumente, a pessoa que está com trauma facial sente dor na região frontal, hipoestesia na região do supratroclear, epistaxe e rinoliquorragia, isto é, laceração da dura.

Diagnóstico

O diagnóstico de fraturas faciais é basicamente clínico, com uma avaliação da história do trauma do paciente, através do mesmo ou por familiares e amigos.
  • Através de palpação e inspeção procurando sinais de trauma;
  • Assimetria facial;
  • Afundamento da face;
  • Hemorragia subconjuntival;
  • Observar deslocamentos e movimentações ósseas e edemas.
  • Exames por Imagens:
  • RX;
  • Tomografia computadorizada;
  • Ressonância magnética.
Prevenção
  • Uso o cinto de segurança;
  • Uso de "airbag";
  • Fazer o uso do capacete;
  • O uso de equipamentos de proteção adequados na pratica esportiva;
  • Obedecer às normas de segurança no trabalho.



Depressão pós-parto (DPP)


É uma forma de depressão que afeta mulheres após terem dado à luz a um bebê. Estima-se que cerca de 60% das novas mães passam por uma forte melancolia após o parto conhecida internacionalmente como baby blues. No Brasil cerca de 40% desenvolvem depressão sendo que 10% apresentem a sua forma mais severa. Recomenda-se que uma psicoterapia seja iniciada o mais rápido possível.

A depressão pós-parto ocorre logo após o parto. Os sintomas incluem tristeza e desesperança. Muitas novas mães experimentam alterações de humor e crises de choro após o parto, que se desvanecem rapidamente. Elas acontecem principalmente devido às alterações hormonais decorrentes do término da gravidez. No entanto, algumas mães experimentam esses sintomas com mais intensidade, dando origem à depressão pós-parto. Raramente, pode ocorrer uma forma extrema de depressão pós-parto, conhecida como psicose pós-parto.

Acreditava-se que somente as mães sofriam desse mal, no entanto, novos estudos mostram que elas também podem afetar os pais.

Depressão pós-parto não é uma falha de caráter ou uma fraqueza. Se você tem depressão pós-parto, o tratamento imediato pode ajudar a gerir os seus sintomas e desfrutar de seu bebê.

Causas

A depressão pós-parto, assim como a maioria dos transtornos psicológicos, tem como causas fatores biológicos, psicológicos e sociais. Caso a mãe já apresente depressão antes do parto é provável que ocorra seu agravamento. As grandes alterações hormonais durante a gravidez e a diminuição após o parto são um dos principais responsáveis, porém existe uma clara relação entre o suporte social principalmente do parceiro e família, do planejamento da gravidez, de problemas de saúde da criança, dificuldade em voltar ao trabalho, dificuldade sócio-econômica e estado civil com a presença e gravidade da depressão.

Incidência

No Brasil estudos mostram uma prevalência por volta de 40%, enquanto a americana de 60%.

Sintomas

Alguns dos sintomas mais comuns são:
  • Tristeza;
  • Desesperança;
  • Baixa auto-estima;
  • Culpa;
  • Anedonia;
  • Distúrbios de sono;
  • Distúrbios na alimentação;
  • Cansaço e falta de energia;
  • Desinteresse sexual;
  • Aumento na ansiedade;
  • Irritabilidade;
  • Sentimento de incompetência;
  • Isolamento social.

Tratamento

Pode ser tratada com Inibidor seletivo de receptação de serotonina, porém como a maioria dos antidepressivos passam para o leite materno é necessário o uso de substitutos adequados. Logo a psicoterapia é o tratamento mais recomendado. Para mães que preferem resultados mais rápidos a terapia cognitivo-comportamental e a terapia analítico-comportamental demoram por volta de 6 meses.
Uma alimentação adequada, rica em Ômega 3 e sais minerais, e exercícios também são importantes para melhorar o humor e a saúde em geral.
Não há uma única causa para depressão pós-parto. Fatores físicos, emocionais e de estilo de vida podem influenciar de alguma forma no surgimento da doença.

Mudanças físicas

Após o parto, ocorre uma queda dramática nos hormônios estrogênio e progesterona, e essas mudanças por si só podem contribuir para um quadro de depressão pós-parto. Outro hormônio produzido pela glândula tireoide também pode cair bruscamente - o que pode aumentar o cansaço e sensação de tristeza. Mudanças no seu volume de sangue, pressão arterial, sistema imunológico e metabolismo podem contribuir para a fadiga e alterações de humor.

Fatores emocionais

Quando você está privado de sono e sofrendo algum tipo de estresse ou pressão psicológica, você pode ter problemas para lidar com situações do dia a dia. A mãe também pode se sentir menos atraente ou sentir que perdeu o controle sobre sua vida. Qualquer um desses fatores pode contribuir para a depressão pós-parto.

No caso dos homens, a depressão pós-parto pode surgir por conta da preocupação com sua própria capacidade de educar um recém-nascido. A ansiedade em prover uma boa vida para a criança, o aumento das responsabilidades e o suporte que se deve dar ao parceiro (a) estão entre as causas do problema. Apesar de essas causas serem comuns nos pais, também podem ocorrer com as mães.

Estilo de vida

Muitos fatores de estilo de vida podem levar à depressão pós-parto, incluindo um bebê exigente, dificuldade de amamentação, filhos mais velhos com ciúmes, problemas financeiros, falta de apoio do parceiro ou de outros entes queridos.

Fatores de risco

➡História de depressão pós-parto anterior;
➡Falta de apoio da família, parceiro e amigos;
➡Estresse, como um recém-nascido doente, problemas financeiros ou problemas familiares;
→Limitações físicas anteriores ou após o parto;
➡Depressão durante a gravidez;
➡Depressão anterior;
➡Transtorno bipolar;
➡História familiar de depressão ou transtorno bipolar;
➡História de desordem disfórica pré-menstrual (PMDD), que é a forma grave de tensão pré-menstrual (TPM);

Violência doméstica, que podem aumentar durante a gravidez e quando um casal está se ajustando a um novo bebê. Se o seu parceiro é violento ou emocionalmente abusivo, você e seu bebê estão fisicamente em risco, e você tem um maior risco de depressão pós-parto. Procure ajuda se possível.
  • Perder ou ganhar peso;
  • Vontade de comer mais ou menos do que o habitual;
  • Dormir muito ou não dormir o suficiente;
  • Inquietação ou indisposição;
  • Cansaço e energia;
  • Sentimento de indignação ou culpa;
  • Dificuldade para se concentrar ou tomar decisões;
  • Ansiedade e excesso de preocupação.

Psicose pós-parto

Existem também o risco de psicose pós-parto, estimado entre 2 e 4 a cada 1000 partos. Muito mais grave que a depressão, na psicose a perda de contato com a realidade que pode incluir alucinação, delírios, fala desorganizada, humor instável, medo patológico e comportamentos violentos contra si e contra os outros. Pode ser necessário a internação.

Esta condição grave é mais susceptível de afetar as mulheres que têm distúrbio bipolar ou histórico de psicose pós-parto. Os sintomas, que começam geralmente durante as primeiras três semanas após o parto, incluem:

👉Sentir-se desconectada com seu bebê e com as pessoas em seu entorno;
👉Sono perturbado, mesmo quando o bebê está dormindo;
👉Pensamento extremamente confuso e desorganizado, aumentando o risco de prejudicar o bebê, a si mesma ou qualquer pessoa;
👉Mudanças drásticas de humor e comportamento bizarro;
Extrema agitação ou inquietação;
👉Alucinações, que pode ser visuais, auditivas, olfativas ou pode contato;
👉Pensamento delirante que não se baseia na realidade.

Diagnóstico

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) da Associação Americana de Psiquiatria considera depressão pós-parto um subtipo de depressão maior. De acordo com o manual, para depressão pós-parto ser diagnosticada, os sinais e sintomas da depressão devem se desenvolver dentro de quatro semanas após o parto. Sinais de um episódio depressivo incluem, em parte:

➯Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias;
➯Redução de interesse e prazer nas atividades;
➯Mudança significativa no apetite ou mudança inesperada no peso;
➯Incapacidade de dormir (insônia) ou sonolência excessiva (hipersonia);
➯Agitação ou movimentos mais lentos;
➯Fadiga ou falta de energia;
➯Sentimentos de inutilidade;
➯Capacidade reduzida de pensar, concentrar-se ou tomar decisões;
➯Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.

Para distinguir entre um caso de curto prazo e uma forma mais grave de depressão, o médico ou médica pode pedir para você preencher um questionário de triagem de depressão. Além disso, o médico provavelmente irá realizar exames de sangue para determinar se uma disfunção da tiroide está contribuindo no quadro.

Se há histórico pessoal de depressão, depressão pós-parto, psicose pós-parto ou transtorno bipolar, é importante acompanhar com o médico ou médica de perto antes mesmo dos sintomas começarem. Alguns especialistas sugerem que as mulheres de alto risco tenham seu primeiro check-up pós-natal três ou quatro semanas após o parto, em vez das habituais seis semanas.

Tratamento:

↪Medicamentosos

Os antidepressivos são frequentemente utilizados, geralmente em combinação com a orientação e suporte.
Os antidepressivos são normalmente utilizados durante pelo menos seis meses.
Inibidores seletivos da receptação de serotonina
Antidepressivos tricíclicos.

↪Psicoterapia

O aconselhamento ajuda a prevenir e tratar a depressão pós-parto e depressão durante a gravidez. Para melhorar o sucesso do tratamento, ambos os pais devem tentar participar.
Terapia cognitivo comportamental ajuda a tomar conta da maneira como você pensa e sente.
Aconselhamento interpessoal fornece suporte emocional e ajuda na resolução de problemas e definição de metas.

↪Terapia hormonal

A reposição hormonal pode ajudar a neutralizar a queda rápida nos níveis de estrogênio que acompanha o parto, aliviando os sintomas de depressão pós-parto em algumas mulheres. Entretanto, ainda não é comprovado que a terapia hormonal possa prevenir ou tratar a depressão pós-parto. Tal como acontece com os antidepressivos, é importante pesar os riscos e benefícios potenciais do tratamento com terapia hormonal.

↪Psicose pós-parto

Psicose pós-parto requer tratamento imediato, muitas vezes no hospital. Quando a segurança da paciente está garantida, uma combinação de medicamentos - como antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor - pode ser usado para controlar os sintomas. Às vezes, a eletroconvulsoterapia é recomendada também.
O tratamento para a psicose pós-parto pode afastar a mãe do bebê por muito tempo e tornar a amamentação difícil, e alguns medicamentos utilizados para tratar a psicose pós-parto não são recomendados para mulheres que estejam amamentando.

Complicações

Se não for tratada, a depressão pós-parto pode interferir com o vínculo mãe-filho e causar problemas familiares. Filhos de mães que têm depressão pós-parto não tratada são mais propensos a ter problemas de comportamento, como dificuldades para dormir e comer, crises de birra e hiperatividade. Os atrasos no desenvolvimento da linguagem são mais comuns também.
Depressão pós-parto não tratada pode durar meses ou mais, por vezes tornar-se um distúrbio depressivo crônico. Mesmo quando tratada, depressão pós-parto aumenta o risco de futuros episódios depressivos.

Prevenção
  • Manter uma alimentação saudável,
  • Fazer exercício físico e receber apoio na medida do possível.
  • Evitar uso álcool e outras drogas.