05 fevereiro 2020

Abortamento


Interrupção da gravidez antes das 20 - 22 semanas de gestação ou expulsão do feto com menos de 500gr. Pode ser espontâneo ou provocado (quando medicamento ou manobra, o induziu).

Incidência
15% de todas as gestações terminam espontaneamente entre a 4ª e 20ª semana de gestação. Antes de 4 semanas estas cifras são mais elevadas (40a 45%), porém não se faz o diagnóstico.

Em ¾ das observações os abortos são precoces (até 12 semanas) e, na parcela restante, rotulado tardio (após 12 semanas).

Etiologia

Causas embrionárias ou fetais:
  • Cromossomopatias (principal causa de abortamentos precoces);
  • Ovopatias.
Causas maternas
  • Ginecopatias; 
  • Doenças Sistêmicas; 
  • Infecções; 
  • Fatores Hormonais; 
  • Mecanismos Imunológicos; 
  • Traumatismos e outros.
Propedêutica
  • Presença de gravidez (História Clínica, ßHCG e USG);
  • Volume uterino (USG e Toque combinado);
  • Perdas Vaginais (sangramento ou partes fetais);
  • Características cervicais (dilatação);
  • Exame especular (constatar a origem intra-uterina do sangramento).
Exames complementares
  • Tipagem Sanguínea - Hemograma completo (rastrear perdas e processo infeccioso);
  • Beta HCG sérico;
  • Ultra-sonografia (vitalidade do concepto, presença de restos ovulares, idade gestacional);
Diagnóstico diferencial
  • Doença Trofoblástica Gestacional;
  • Gravidez ectópica;
  • Patologias benignas do trato genital inferior (lacerações do colo ou vagina, erosões cervicais, pólipos);
  • Patologias malignas (que causem sangramento, principalmente do colo uterino).
Tipo de abortamento

👉Ameaça de aborto

Sangramento genital de intensidade variada e dor em baixo ventre.

Ao exame: colo fechado, útero de volume compatível com a idade gestacional.

👉Abortamento em curso

Sangramento genital e dor pélvica tipo cólica (ambos de intensidade variável). 

Ao exame: fundo uterino compatível com idade gestacional, colo uterino dilatado, tocando-se por vezes parte do ovo.

👉Aborto incompleto

Perda sanguínea e dor tipo cólica (ambos de intensidade variável).

Ao exame: colo uterino aberto, identificação de restos ovulares ao toque, fundo uterino menor que o esperado para a idade gestacional.

👉Aborto Completo

História clínica retrospectiva: paciente informa sangramento e cólicas, expulsão de material embrionário e logo após diminuição ou cessação da sintomatologia.

Ao exame: colo uterino fechado, útero menor que o esperado para a idade gestacional, sangramento ausente ou em dedo de luva. Diagnóstico confirmado através de ultrassonografia.

👉Aborto retido

Na maioria das vezes, achado ultra-sonográfico. Paciente pode referir desaparecimento abrupto dos sinais e sintomas próprios da gravidez.

Ao exame: útero pode se apresentar compatível ou menor que o esperado para a idade gestacional; sangramento se presente, discreto; colo fechado.

Em gestações incipientes se aconselha a realização de ultrassonografia e dosagem sérica de Beta HCG seriados para confirmar o diagnóstico (tempo em que a maioria dos casos se resolve espontaneamente).

👉Aborto infectado

Qualquer das formas do abortamento, acompanhadas por febre, fluxo vaginal com odor fétido e dor à mobilização uterina.

Podemos também observar: Sudorese e calafrios, Taquicardia, Taquisfigmia e Taquipnéia; Cianose; Icterícia; Agitação; Hipotensão e Choque, dependendo da gravidade.

O útero geralmente se encontra amolecido; poderá haver sinais de irritação peritonial (abdome agudo infeccioso). Grito de Douglas - pensar em abscesso em fundo-de-saco.

Tratamento

Ameaça de aborto

→Tratamento ambulatorial exceto em situações de sangramento de vulto.

Aconselha-se: repouso, abstinência sexual, antiespamódicos caso necessário, apoio emocional.

Abortamento em curso

→Internamento, Tipagem Sanguínea - Hemograma (rastrear perdas e processo infeccioso);

→Repor perdas, caso necessário;

→Promover analgesia;

Aguardar evolução do trabalho abortivo, procurando assim evitar a dilatação instrumental do colo uterino, principalmente nos abortos tardios (superiores a 12 semanas), só se praticando o esvaziamento uterino após a expulsão do concepto. Se paciente Rh Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D (300 microgramas IM).

Aborto incompleto
  • Internamento;
  • Tipagem Sanguínea - Hemograma (rastrear perdas e processo infeccioso);
  • Repor perdas, caso necessário;
  • Esvaziamento uterino.Se paciente Rh Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D.
Aborto completo

→Expectação em nível ambulatorial.

Aborto retido
  • Internamento, em gestações superiores a 12 semanas, realizar estudo da coagulação;
  • Indução do trabalho abortivo;
  • Esvaziamento uterino, que só deve ser realizado após a expulsão do concepto, caso a gestação seja superior a 12 semanas;
  • Se paciente Rh Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D (300 microgramas IM).
Aborto infectado
  • Internação;
  • Solicitação de Exames: Hemograma Completo, Tipagem Sanguínea, Estudos da Coagulação, Sumário de Urina; Uréia, Creatinina, Bilirrubinas (total e frações), nos casos mais graves (suspeita de peritonite e/ou septicemia);
  • Punção de veia de grosso calibre com agulha calibrosa (reposição de líquidos e hemoderivados caso necessário);
  • Cateterismo vesical com sonda de Foley nos casos mais graves;
  • Hidratação com Solução Fisiológica 0,9% (manter diurese > 30 ml/hora);
  • Iniciar antibioticoterapia de largo espectro (anaerobicida + aminoglicosídeo, caso necessário acrescentar ampicilina - ação contra enterococos);
  • Providenciar esvaziamento uterino de acordo com a evolução do quadro abortivo;
  • Administrar substâncias ocitócicas com a finalidade de promover um esvaziamento uterino mais seguro;
  • Manter terapia endovenosa por 24 a 48 horas após o último pico febril;
  • Quadro febril persistente pensar em complicações clínicas (antibioticoterapia inadequada, tromboflebite pélvica) e cirúrgicas (perfuração uterina, abscessos);
  • A laparotomia deve ser reservada para casos graves (massas anexiais, perfuração uterina, sepse, gangrena uterina), sempre pensar na possibilidade da realização de histerectomia total e por vezes pode também se tornar necessário a ablação dos anexos;

Aguardar evolução do trabalho abortivo, procurando assim evitar a dilatação instrumental do colo uterino, principalmente nos abortos tardios (superiores a 12 semanas), só se deve manipular a cavidade uterina após a expulsão do concepto. 

Se paciente Rh Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D (300 microgramas IM).

Indução

➡MISOPROSTOL - 200mcg (1 comprimido) por via vaginal a cada 6 horas; procurar depositar o comprimido no fundo do saco posterior;

➡OCITOCINA - 20 U (4 ampolas) associadas em 500 ml de solução fisiológica ou glicosada a 5%, infundindo 8 gotas/min, aumentando 4 gotas a cada hora até se atingir a atividade contrátil uterina.

Observação: extrema cautela durante a utilização de substâncias ocitócicas, principalmente naquelas pacientes com história de cicatriz uterina anterior.

Técnicas de esvaziamento uterino:


Curetagem uterina

Realizada manualmente, com a introdução dos dedos indicador e médio envolvidos em gaze através do colo uterino, procurando remover restos placentários. 
Indicada em casos de abortos tardios com útero volumoso e permeabilidade total do colo uterino. Na maioria das vezes se torna necessário a complementação com curetagem mecânica.

Curetagem mecânica
  • Esvaziamento vesical;
  • Posição adequada;
  • Anestesia;
  • Assepsia e anti-sepsia da genitália;
  • Toque bimanual (volume e posição do corpo uterino, condições cervicais);
  • Inserção de especulo, exposição e pinçamento do colo uterino;
  • Dilatação instrumental do colo, caso necessário (Velas de Hegar); - Utilização da pinça de restos;
  • Seleção das curetas;
  • Raspagem no sentido horário;
  • Retirar a cureta o menos possível;
  • Atenção para o fundo uterino e cornos uterinos;
  • Empunhadura cuidadosa da cureta;
  • Uso de uterotônicos;
  • Anatomia Patológica em casos suspeitos de doença trofoblástica gestacional.
Aspiração manual intra-uterina (AMIU)

Método de preferência para a prática do esvaziamento uterino, importante passo para a Humanização do tratamento do aborto;

Em relação à curetagem mecânica, apresenta as seguintes vantagens:
  • Possibilidade de ser realizada em nível ambulatorial;
  • Menor tempo de hospitalização;
  • Mais rápida;
  • Menos traumática;
  • Menor incidência de perfuração;
  • Menor sangramento;
  • Menor incidência de infecção.
Histerotomia

Indicação restrita a casos extremos onde exista impossibilidade de esvaziamento através do colo uterino; mortalidade maior em 44 vezes quando comparado com dilatação e curetagem no primeiro trimestre.

Complicações
  • Perfuração uterina (1;111 a 1:2500);
  • Lacerações cervicais;
  • Lesões estruturais do Orifício Interno do colo uterino;
  • Dano ao endométrio;
  • Sinéquia uterina;
  • Infecção.
Conduta na perfuração uterina
  • Não manipular com pinça de restos;
  • Concluir a curetagem delicadamente;
  • Utilizar substâncias ocitócicas;
  • Monitorizar a paciente clinicamente e laboratorialmente (hemograma);
  • Antibioticoterapia profilática;
  • Caso apresente sinais de abdome agudo a laparotomia é indicada com a finalidade de se praticar a histerorrafia e pesquisar lesões em órgãos vizinhos.
  • Quando necessário o esvaziamento pode ser completado através da lesão uterina antes de se praticar a histerorrafia.
Antibioticoterapia no aborto infectado/antibiótico dose administração duração:

➡Gentamicina 1,5 mg/kg a cada 8 horas EV, IM - 7-10 dias
➡Clindamicina 600 a 900 mg a cada 6 horas EV - 7-10 dias
➡Amicacina 15 mg/kg/dia a cada 12 horas IM, EV - 7-10 dias
➡Metronidazol 500 mg a 1 g a cada 6 horas EV - 7-10 dias
➡Ampicilina 1 g a cada 6 horas EV - 7-10 dias


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