07 fevereiro 2020

Vaginose bacteriana


A vaginose bacteriana é a infecção vaginal mais frequente e a principal causa de corrimento vaginal anormal em mulheres em idade reprodutiva. Esta síndrome acomete o trato genital feminino inferior, sendo caracterizada por uma acentuada redução na microbiota vaginal normal, constituída predominantemente pelos lactobacilos, e um crescimento exacerbado de uma variedade de bactérias anaeróbicas.

Causas

A vagina é um órgão naturalmente habitado por diversas bactérias, algumas “boas”, algumas “ruins”. Os lactobacilos são as bactérias “boas” e encontram-se normalmente em maior quantidade (cerca de 95% da população), impedindo o crescimento de bactérias potencialmente causadoras de doenças através do controle do pH vaginal e da competição por alimentos.

A vaginose bacteriana ocorre quando há uma ruptura deste equilíbrio, acarretando em uma diminuição dos lactobacilos e um crescimento da flora “ruim” que pode ser composta por diversas bactérias, entre elas:
  • Gardnerella vaginalis,
  • Prevotella,
  • Porphyromonas,
  • Bacteroides,
  • Peptostreptococcus,
  • Mycoplasma hominis,
  • Ureaplasma urealyticum,
  • Mobiluncus,
  • Fusobacterium;
  • Atopobium vagina.
Sintomas

Podem variar consideravelmente de paciente para paciente, podendo existir até casos em os pacientes não apresentam nenhum sintoma. Contudo, quando é sintomático, os sinais que podem alertar que você sofre de vaginose bacteriana são:

➡Corrimento vaginal de cor branca (ou acinzentada, pouco espesso e que liberta um cheiro desagradável, muito semelhante ao do peixe). Este odor pode se acentuar depois das relações sexuais e antes de chegar à menstruação;

➡Coceira na vulva e na vagina;

➡Sensação de queimação ao urinar.

Diagnóstico

O diagnóstico é baseada no conjunto de sintomas e achados laboratoriais.

Amostras das secreções

→Através do exame das secreções é possível avaliar o pH da vagina (que fica menos ácido na vaginose) e procurar por micro-organismos através de um microscópio. Na vaginose há um teste simples,  feito no próprio consultório, que consiste na adição de hidróxido de potássio 10% na secreção vaginal para aumentar a liberação do característico cheiro forte de peixe.

→Através do exame no microscópio é possível identificar as chamadas clue-cells, células típicas da vaginose bacteriana. Também é possível identificar outros germes que causam corrimento que não a vaginose, como fungos.

→A cultura das secreções para identificação de bactérias não tem papel no diagnóstico uma vez que até 60% das mulheres sem vaginose possuem Gardnerella vaginalis e outras bactérias em suas vaginas. Ter Gardnerella vaginalis não significa que necessariamente a mulher irá desenvolver vaginose.

Tratamento

⟶Em alguns casos, a vaginose bacteriana pode ser totalmente assintomática, dificultando o diagnóstico. Nesses casos, somente um exame laboratorial de papanicolau para constatar a presença da infecção.

⟶Em cerca de 1/3 dos casos, a vaginose desaparece mesmo sem tratamento, devido à recuperação da população natural de lactobacilos na vagina. Portanto, como a chance de cura espontânea é relevante, só indicamos tratamento caso existam sintomas ou se a paciente esteja prestes a realizar uma cirurgia ginecológica.

Antibióticos

O tratamento, quando indicado, é feito com antibióticos por via oral ou intravaginal. Os mais prescritos são o metronidazol ou a clindamicina por sete dias. Tinidazol ou secnidazol também são boas opções.

Os esquemas terapêuticos mais indicados são:

➱Metronidazol comprimidos de 500 mg, por via oral, duas vezes ao dia por 7 dias;

➱Gel de metronidazol 0,75%, um aplicador completo (5 g) por via intravaginal, uma vez ao dia por 5 dias;

➱Creme de clindamicina 2%, um aplicador completo (5 g) por via intravaginal ao deitar por 7 dias;

➱Tinidazol 2 g, por via oral, uma vez ao dia por 2 dias;

➥O consumo de álcool deve ser evitado durante o tratamento com metronidazol, pois essa mistura aumenta o risco de reação do tipo dissulfiram. A abstinência do uso de álcool deve continuar por 24 horas após a conclusão do metronidazol;

➥Quando é prescrito um curso de clindamicina por via intravaginal deve-se evitar relações sexuais com preservativos por até cinco dias após o término do tratamento, pois o antibiótico é feito à base de óleo e enfraquece o látex, diminuindo sua eficácia como barreira de proteção;

➥Como a vaginose não é necessariamente uma DST, não é necessário tratar o parceiro. Não há evidências de que o tratamento do parceiro influencie na taxa de cura da paciente. Em casos de relação homossexual entre mulheres ainda há dúvidas se o tratamento da parceira é necessário.

Complicações

👉Se não tratada pode trazer algumas complicações mais sérias tais como:

➡Inflamação pélvica, a qual envolve a infecção do trato genital superior (DIP);

➡Infertilidade, causada por danos nas trompas de Falópio;

➡Doenças sexualmente transmissíveis como a gonorreia, clamídia, herpes genital, VIH e infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV);

Em mulheres grávidas como vaginose bacteriana podem também ter um maior risco de: 

→Corioamnionite (inflamação das membranas fetais);

→Parto prematuro e endometrite pós-parto (irritação ou inflamação do revestimento interno do útero após o parto).



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