A
Catapora ou Varicela é uma doença infecciosa aguda e altamente contagiosa
causada pelo vírus Varicela-Zoster que se manifesta com maior frequência em
crianças e com incidência no fim do inverno e início da primavera.
A
principal característica clínica é o polimorfismo das lesões cutâneas (na pele)
que se apresentam nas diversas formas evolutivas (máculas, pápulas, vesículas,
pústulas e crostas), acompanhadas de prurido (coceira). Em crianças, geralmente
é benigna e autolimitada. Em adolescentes e adultos, em geral, o quadro clínico
é mais exuberante.
Agente
etiológico
→Vírus
RNA. Vírus Varicella-zoster (VVZ), família Herpetoviridae.
Reservatório
→O
ser humano.
IMPORTANTE:
Uma vez adquirido o vírus Varicela, a
pessoa fica imune à catapora. No entanto, esse vírus permanece em nosso corpo a
vida toda e pode ser reativado, causando o Herpes-Zoster, conhecido também como
cobreiro.
Transmissão
A
catapora é facilmente transmitida para outras pessoas. O contágio acontece por
meio do contato com o líquido da bolha ou pela tosse, espirro, saliva ou por
objetos contaminados pelo vírus, ou seja, contato direto ou de secreções
respiratórias.
Indiretamente
é transmitida por meio de objetos contaminados com secreções de vesículas e
membranas mucosas de pacientes infectados. Raramente, a catapora (varicela) é
transmitida por meio de contato com lesões de pele.
Período
de incubação do vírus Varicela, causador da Catapora, é de 4 a 16 dias. A
transmissão se dá entre 1 a 2 dias antes do aparecimento das lesões de pele e
até 6 dias depois, quando todas as lesões estiverem na fase de crostas.
Sintomas
Os
sintomas da catapora, em geral, começam entre 10 e 21 dias após o contágio da
doença.
Os principais sinais e sintomas da doença são:
- Manchas vermelhas e bolhas no corpo;
- Mal estar;
- Cansaço;
- Dor de cabeça;
- Perda de apetite;
- Febre baixa.
As
bolhas surgem inicialmente na face, no tronco ou no couro cabeludo, se espalham
e se transformam em pequenas vesículas cheias de um líquido claro.
Em poucos
dias o líquido escurece e as bolhas começam a secar e cicatrizam. Este processo
causa muita coceira, que pode infeccionar as lesões devido a bactérias das
unhas ou de objetos utilizados para coçar.
Aos
primeiros sintomas é necessário procurar um serviço de saúde para que um
profissional possa orientar o tratamento e avaliar a gravidade da doença.
Para
evitar o contágio, é necessário restringir a criança ou adulto com catapora de
locais públicos até que todas as lesões de pele estejam cicatrizadas, o que
acontece, em média, num período de duas semanas.
Mãos, vestimentas e roupas de
cama, além de outros objetos que possam estar contaminados, devem passar por
higienização rigorosa.
Etapas
de manifestações dos sintomas da Catapora (Varicela)
Período
prodrômico – inicia-se com febre
baixa, cefaleia, anorexia e vômito, podendo durar de horas até 3 dias. Na
infância, esses pródromos não costumam ocorrer, sendo o exantema o primeiro
sinal da doença.
Em crianças imunocompetentes, a varicela geralmente é benigna,
com início repentino, apresentando febre moderada durante 2 a 3 dias, sintomas
generalizados inespecíficos e erupção cutânea pápulo vesicular que se inicia na
face, couro cabeludo ou tronco (distribuição centrípeta).
Período
exantemático – as lesões comumente
aparecem em surtos sucessivos de máculas que evoluem para pápulas, vesículas,
pústulas e crostas.
Tendem a surgir mais nas partes cobertas do corpo, podendo
aparecer no couro cabeludo, na parte superior das axilas e nas membranas
mucosas da boca e das vias aéreas superiores.
Máculas Pápulas |
Vesículas Pústulas |
Crostas |
O
aparecimento das lesões em surtos e a rápida evolução conferem ao exantema o
polimorfismo característico da varicela: lesões em diversos estágios (máculas,
pápulas, vesículas, pústulas e crostas), em uma mesma região do corpo.
Nos
adultos imunocompetentes, a doença cursa de modo mais grave do que nas
crianças, apesar de ser bem menos frequente (cerca de 3% dos casos).
A febre é
mais elevada e prolongada, o estado geral é mais comprometido, o exantema mais
pronunciado e as complicações mais comuns podem levar a óbito, principalmente
devido à pneumonia primária.
A
varicela está associada à síndrome de Reye, que ocorre especialmente em
crianças e adolescentes que fazem uso do ácido acetilsalicílico (AAS) durante a
fase aguda.
Essa síndrome se caracteriza por um quadro de vômitos após o
pródromo viral, seguido de irritabilidade, inquietude e diminuição progressiva
do nível da consciência, com edema cerebral progressivo.
A síndrome de Reye é
resultado do comprometimento hepático agudo, seguido de comprometimento
cerebral. Portanto, está contraindicado o uso de AAS por pacientes com Catapora
(Varicela).
Complicações
As
principais complicações, nos casos severos ou tratados inadequadamente são:
➠Encefalite;
➠Pneumonia;
➠Infecções
na pele e ouvido.
A
enfefalite é uma inflamação aguda no sistema nervoso central, que provoca a
inflamação do cérebro. Se não for tratada, pode ser fatal. Afeta principalmente
bebês, crianças e adultos com o sistema imunológico comprometido.
Pessoas
com catapora não devem ter contato com recém-nascidos, mulheres grávidas ou
qualquer indivíduo que esteja com a imunidade baixa (como pessoas com aids ou
que estejam realizando quimioterapia), já que a doença pode ser mais grave
nestes grupos.
Diagnóstico
O
diagnóstico não é feito por meio de exames laboratoriais para confirmação ou
descarte dos casos de varicela, exceto quando é necessário fazer o diagnóstico
diferencial nas situações mais graves.
Os
te stes sorológicos mais utilizados para confirmar o diagnóstico são:
➥Ensaio
imune enzimático (ELISA);
➥Aglutinação
pelo látex (AL);
➥Imunofluorescência
indireta (IFI), embora a reação em cadeia da polimerase (PCR) seja considerada
o padrão ouro para o diagnóstico de infecção pelo VVZ (principalmente em caso
de varicela grave).
O
vírus pode ser isolado das lesões vesiculares durante os primeiros 3 a 4 dias
de erupção ou identificado pelas células gigantes multinucleadas, em lâminas
preparadas, a partir de material obtido de raspado da lesão, ou pela inoculação
do líquido vesicular em culturas de tecido, porém a identificação das células
gigantes multinucleadas não é específica para o VVZ.
A identificação do VVZ
pode ser feita pelo teste direto de anticorpo fluorescente ou por cultura em
tecido, por meio de efeito citopático específico, porém esse método é de alto
custo e sua disponibilidade é limitada.
Diagnóstico
diferencial
- Varíola (erradicada);
- Coxsackioses;
- Infecções cutâneas;
- Dermatite herpetiforme;
- Impetigo;
- Erupção variceliforme de Kaposi;
- Riquetsioses, entre outras.
Tratamento
No
tratamento da catapora, em geral, são utilizados analgésicos e antitérmicos
para aliviar a dor de cabeça e baixar a febre, e anti-histamínicos
(antialérgicos) para aliviar a coceira. Os cuidados de higiene são muito
importantes e devem ser feitos apenas com água e sabão.
Para
diminuir a coceira, o ideal é fazer compressa de água fria. As vesículas não
devem ser coçadas e as crostas não devem ser retiradas. Para evitar que isso
aconteça, as unhas devem ser bem cortadas. A medicação a ser ministrada deve
ser orientada por profissionais de saúde, pois o uso de analgésicos e
antitérmicos à base de ácido acetilsalicílico é contraindicado e pode provocar
problemas graves.
Para
pessoas sem risco de agravamento da varicela, o tratamento deve ser
sintomático. Havendo infecção secundária, recomenda-se o uso de antibióticos,
em especial para combater estreptococos do grupo A e estafilococos.
O
tratamento específico da catapora (varicela) é realizado por meio da
administração do antiviral aciclovir, que é indicado para pessoas com risco de
agravamento. Quando administrado por via endovenosa, nas primeiras 24 horas
após o início dos sintomas, tem demonstrado redução de morbimortalidade em
pacientes com comprometimento imunológico.
O
uso de aciclovir oral para o tratamento de pessoas sem condições de risco de
agravamento não está indicado até o momento, exceto para aquelas com idade
inferior a 12 anos, portadoras de doença dermatológica crônica, pessoas com
pneumopatias crônicas ou aquelas que estejam recebendo tratamento com AAS por
longo tempo, pessoas que recebem medicamentos à base de corticoides por
aerossol ou via oral ou via endovenosa.
As
indicações para o uso do aciclovir são:
Crianças
sem comprometimento imunológico – 20mg/kg/dose, via oral, 5 vezes ao dia, dose
máxima de 800mg/dia, durante 5 dias.
Crianças
com comprometimento imunológico ou casos graves – deve-se fazer uso de
aciclovir endovenoso na dosagem de 10mg/kg, a cada 8 horas, infundido durante
uma hora, durante 7 a 14 dias.
Adultos
sem comprometimento imunológico – 800mg, via oral, 5 vezes ao dia, durante 7
dias. A maior efetividade ocorre quando iniciado nas primeiras 24 horas da
doença, ficando a indicação a critério médico.
Adultos
com comprometimento imunológico – 10 a 15mg de aciclovir endovenoso, 3 vezes ao
dia por no mínimo 7 dias.
Embora
não haja evidência de teratogenicidade, não se recomenda o uso deste
medicamento em gestantes. Entretanto, em casos em que a gestante desenvolve
complicações como pneumonite, deve-se considerar o uso endovenoso.
Com
relação à profilaxia, não há indicação do uso do aciclovir em pessoas sem risco
de complicação por varicela e vacinadas.
A
terapia antiviral específica, iniciada em até 72 horas após o surgimento do
rash, reduz a ocorrência da NPH, que é a complicação mais frequente do
herpes-zóster.
O uso de corticosteroides, na fase aguda da doença, não altera a
incidência e a gravidade do NPH, porém reduz a neurite aguda, devendo ser
adotado em pacientes sem imunocomprometimento. Uma vez instalada a NPH, o
arsenal terapêutico é muito grande, porém não há uma droga eficaz para seu
controle.
São utilizados: creme de capsaicina, de 0,025% a 0,075%; lidocaína
gel, a 5%; amitriptilina, em doses de 25 a 75mg, via oral; carbamazepina, em
doses de 100 a 400mg, via oral; benzodiazepínicos, rizotomia, termo coagulação
e simpatectomia.
Prevenção
As
principais medidas de prevenção são:
➜Vacinação;
➜Lavar
as mãos após tocar nas lesões;
➜Isolamento:
crianças com varicela não complicada só devem retornar à escola após todas as
lesões terem evoluído para crostas. Crianças imunodeprimidas ou que apresentam
curso clínico prolongado só deverão retornar às atividades após o término da
erupção vesicular;
➜Pacientes
internados: isolamento de contato e respiratório até a fase de crosta;
Desinfecção:
concorrente dos objetos contaminados com secreções nasofaríngeas;
Imunoprofilaxia
em surtos de ambiente hospitalar.
Em
2013, o Ministério da Saúde introduziu a vacina tetra viral, que protege contra
sarampo, caxumba, rubéola e varicela (catapora), na rotina de vacinação de
crianças entre 15 meses e 2 anos de idade que já tenham sido vacinadas com a
primeira dose da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola). A vacina
para varicela (catapora) tem suas indicações precisas, levando em conta a
situação epidemiológica da doença, por isso não está disponível de forma
universal no SUS.
Indicações
para a vacinação
👉População
indígena a partir de quatro anos de idade;
👉Surto
hospitalar da doença: vacinar, até cinco dias após o surto, crianças maiores de
9 meses de idade que tenham imunidade baixa e que estejam dentro do hospital e
demais pessoas que estejam suscetíveis;
👉Profissionais
de saúde, cuidadores e familiares suscetíveis à doença que estejam em convívio
domiciliar ou hospitalar com pacientes com maior risco de contrair a doença com
consequências graves, como crianças com câncer, pessoas em geral submetidas à
cirurgias, doadores de órgãos e células-tronco, entre outros;
👉Pacientes
com doenças renais crônicas;
👉Crianças,
adolescentes e adultos infectados pelo HIV;
👉Doenças
dermatológicas graves;
Pessoas
que fazem uso crônico de ácido acetilsalicílico (aspirina), recomenda-se
suspender o uso por seis semanas após a vacinação.
Fontes:
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