Mais um tratamento contra o câncer está em fase de testes
clínicos. Desta vez, o alvo do estudo é o câncer de ovário. A pesquisa,
publicada nesta quarta-feira na revista Science Translational Medicine, explica
como os resultados de uma vacina personalizada podem prolongar a vida de
pacientes com a doença. Segundo o estudo, no período de dois anos os
participantes que foram vacinados mostraram melhores resultados de “sobrevida
global” – tempo entre o diagnóstico e a morte – quando comparados aos que não
receberam a dose.
Câncer
de ovário
O câncer de ovário, também conhecido como “assassino
silencioso”, costuma ser diagnosticado nos estágios avançados da doença (cerca
de 80% dos casos). No momento do diagnóstico, 60% dos cânceres de ovário já se
espalharam para outras partes do corpo, reduzindo a taxa sobrevivência para 30%
nos primeiros cinco anos. De acordo com o médico Ronny Drapkin, professor da
Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, a razão do diagnóstico
acontecer tardiamente é a sua localização. “A pelve é como uma tigela, então um
tumor pode crescer bastante antes de se tornar perceptível”, disse Drapkin ao
Daily Mail Online.
Normalmente, os primeiros sintomas do câncer de ovário
são gastrointestinais porque os tumores começam a fazer pressão na área acima
de sua localização. No entanto, quando um indivíduo se queixa de desconforto
gastrointestinal, os médicos costumam priorizar uma mudança alimentar,
desconsiderando a possibilidade da doença.
Apenas quando os sintomas se tornam persistentes o
paciente passa por uma triagem que revela o câncer. A doença é tratada com
cirurgia e quimioterapia, mas por causa da demora no diagnóstico – e
consequentemente no tratamento -, 85% dos pacientes têm recaídas e acabam
desenvolvendo resistência à quimioterapia, deixando-os sem opções de
tratamento.
Vacina
A médica Lana Kandalaft, principal autora do estudo,
acredita que a vacina pode ser capaz de impulsionar o sistema imunológico e
aumentar as taxas de sobrevivência dos pacientes. De acordo com a American
Cancer Society, a equipe de pesquisadores analisou os resultados de 25 mulheres
com câncer de ovário epitelial avançado, que tem taxa de sobrevida média de 17%
dentro do período de cinco anos.
A vacina personalizada criada pelos cientistas consiste
em usar o tumor do paciente (armazenado e preservado antes da cirurgia) e as
células do sangue. Essas células têm a missão de identificar e capturar
invasores e levá-los até os nódulos linfáticos, onde as células T são acionadas
e iniciam um ataque na tentativa de destruir os invasores. “Os pacientes que
receberam a vacina criaram uma resposta imune contra seus próprios tumores”,
disse Lana em comunicado. Ainda segundo ela, os resultados são significativos
porque o corpo aumentou o número de células T específicas capazes de destruir
os tumores em pacientes cujo sistema imunológico não consegue reagir sozinho.
A taxa de sobrevivência no período de dois anos avaliados
pela equipe entre as mulheres que receberam a vacina foi de 78% contra 44% para
as que não foram vacinadas.
Precauções
O diretor médico da American Cancer Society, Otis
Brawley, afirmou-se esperançoso com a ideia da imunoterapia ser usada como
tratamento para o câncer de ovário. Apesar de não estar envolvido na pesquisa,
ele se disse cauteloso com as vacinas personalizadas. “A análise de
sobrevivência é propensa a alguns preconceitos que podem induzir ao erro até
mesmo em avaliadores clínicos mais experientes”, disse ao Daily Mail Online.
Os pesquisadores garantem que pretendem fazer mais
estudos com a vacina. A pesquisa atual focou na segurança do tratamento.
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