A corioamnionite ou infecção ovular
caracteriza-se como um processo inflamatório agudo e às vezes difuso das
membranas extraplacentárias, placa coriônica da placenta e cordão umbilical.
Pode ocorrer com membranas íntegras, mas é mais comum em casos de rotura de
membranas ovulares, decorrente do tempo prolongado de rotura e/ou da realização
de toques vaginais. Às vezes não há história típica de rotura de membranas ou a
rotura não é percebida pela paciente.
A infecção corioamniótica é mais
frequentemente uma infecção polimicrobiana, destacando-se entre os agentes mais
comuns os anaeróbicos, bastonetes aeróbios gram-negativos, estreptococos do
grupo B, micoplasmas, Gardnerella vaginalis.
Os achados clínicos associados à
corioamnionite aguda que se desenvolve na gravidez a termo são, frequentemente,
benignos. Entretanto, podem ocorrer consequências mais drásticas, como: aumento
das mortes fetais em 2,6 vezes nos casos leves e 4,1 vezes nos casos moderados
ou graves. A maioria desses óbitos se relaciona à sepse.
Diagnóstico:
Clínico: é sugerido pela presença, em graus
variáveis, de febre, taquicardia materna ou fetal, hipersensibilidade uterina.
Se houver rotura prolongada de membranas, o líquido amniótico pode apresentar
odor fétido ou mostrar-se purulento.
Avaliação
Laboratorial:
- Hemograma com contagem diferencial de leucócitos. Pode haver leucocitose ou leucopenia (conforme os agentes bacterianos envolvidos), geralmente com desvio à esquerda;
- Coleta de secreção endocervical com cotonete, para bacterioscopia e cultura;
- Hemoculturas;
- Amniocentese: para casos com membranas íntegras onde existe a suspeita diagnóstica;
- Gasometria arterial (casos mais graves ou suspeita de quadro séptico).
Conduta:
Iniciar antibioticoterapia de largo espectro,
utilizando, um anaerobicida (metronidazol ou clindamicina) e um aminoglicosídeo
(gentamicina ou amicacina).
Se não houver resposta, associar ampicilina ao
esquema adotado ou ampliar o espectro antibacteriano com outros antibióticos.
A
utilização de penicilina como anaerobicida de 1ª escolha, reduz o espectro
antibacteriano.
A via vaginal é preferencial. Deve-se
iniciada a indução de parto, desde que não exista contra-indicação obstétrica e
a situação clínica materna permita um tempo de espera na resolução do quadro,
que não deve ser superior a 12 ou, no máximo, 24 horas.
Se for indicada uma cesariana, proteger a
cavidade com compressas, para reduzir a contaminação bacteriana
intraperitoneal.
Lavar cavidade, fazer suturas com pontos
separados, inclusive no útero infectado.
Avaliar no intra-operatório a
responsividade uterina aos ocitócicos. Colocar drenos intraperitoneais se
houver dúvida quanto à possibilidade de formação de abscessos.
Complicações:
- Infecção puerperal;
- Bacteremia na mãe ou no neonato em 10% dos casos;
- Protraimento do trabalho de parto; resposta diminuída à ocitocina;
- Aumento de duas a três vezes na proporção de cesarianas;
- Aumento no número de mortes perinatais;
- Síndrome de angústia respiratória e infecções em lactentes com baixo peso ao nascer.
Técnica
operatória para cesariana com corioamnionite
A histerotomia em pacientes com a cavidade
uterina contaminada ou infectada, coloca em contato direto a flora bacteriana
uterina com a cavidade peritonial. Daí a necessidade de promover-se uma técnica
operatória diferenciada para diminuir ao máximo a contaminação:
- A antibioticoterapia deve ser iniciada no pré-operatório para os casos de corioamnionite;
- Considerar, em alguns casos, a laparotomia longitudinal infraumbilical que, por não descolar a aponeurose, tem menos risco de abscessos de parede;
- Proteção da cavidade peritoneal superior, com a colocação de duas compressas protetoras, uma em cada goteira parietocólica, antes da histerotomia;
- Manter o decúbito da paciente em céfalo-aclive, para evitar a passagem de material contaminado para o abdome superior;
- Histerorrafia com fio de absorção lenta (vicril), número zero, que tem menos risco de deiscência frente a um quadro de endometrite;
- Lavagem da pelve com soro fisiológico morno após a histerorrafia;
- Trocar luvas após dequitação.
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