Que é
uma delícia ter um animal de estimação, você já sabe, mas novas pesquisas
mostram que eles podem dar muito mais que carinho para as gestantes: ajudam a
manter o peso e evitam até que seu filho tenha alergia.
A mudança que chega com a gravidez afeta tudo. Seus hormônios
estão a mil, a relação com seu marido vai se transformar – afinal, agora vocês
vão ser pais – e, dentro desse mundo novo, alguém continua sempre animado
esperando pela sua atenção e seu carinho.
Quem tem cachorro sabe disso, e o dia a dia com ele vai mudar
também. Os cães percebem a alteração hormonal da dona pelo olfato, e a partir
daí criam um laço ainda mais profundo que o anterior, explica Hannelore Fuchs,
especialista na relação entre animais e humanos, psicóloga e veterinária (SP).
Mônica Rebuffo, 31 anos, já percebeu isso. Grávida de 21
semanas da primeira filha, nota que sua cachorra Vodka, uma bull terrier de 8
anos, a protege. “Ela não pula mais para pedir carinho e dá umas mordiscadas no
Jack quando ele tenta fazer o mesmo”, diz. Jack é seu outro cachorro, um
buldogue francês de 3 anos, um pouco menos delicado e mais agitado que sua
companheira.
E, se só o amor que eles demonstram não bastasse, pesquisas
apontam outros benefícios de ter um animal ao lado durante a gestação. Uma
delas, feita na Universidade de Liverpool (Inglaterra), revelou que as grávidas
com cães têm 50% mais chances de fazer a quantidade de exercícios indicada pela
Organização Mundial da Saúde, que é de três horas por semana.
O animal funciona como um estímulo: se você já o levava para
passear, aumente aos poucos o percurso, até alcançar 30 minutos. Se não tinha
esse hábito, faça o teste em um parque ou praça perto da sua casa – mas não
esqueça de falar com seu obstetra. “Além de ser um exercício de baixo risco, o
cão pode ajudar a motivar as mulheres e, portanto, garantir uma gravidez
saudável”, afirma Sandra McCune, uma das autoras da pesquisa.
Foi o que fez Sandra Gregório, 34 anos, mãe de Laura, 15
dias, até o último minuto. “Passeei com meus dois cães um pouco antes da
consulta com o obstetra em que soube que estava na hora de ir para a
maternidade”, diz sobre os schnauzers, Tobias, 3 anos, e Margot, 1. Eles são os
primeiros cachorros dela, muito por influência do marido, que sempre teve
bichos.
“Acho que vai ser ótimo para minha filha, ouço ele contar
tantas histórias gostosas da infância e ela terá a chance de viver isso
também.” Para já começar essa nova amizade, enquanto Sandra estava na
maternidade, o marido levava fraldas de pano com o cheiro do bebê para os
cachorros sentirem. Hoje, Tobias, que é muito apegado à dona, fica sempre
deitado por perto, quietinho, enquanto ela amamenta.
Essa proximidade que Sandra teve com os bichos na gravidez
pode ser bastante benéfica para a menina no futuro. Outro estudo
norte-americano revelou que os filhos de gestantes que conviveram com seus
animais de estimação têm 28% menos chances de contrair asma ou alergias, porque
desenvolveriam um sistema imunológico mais resistente.
Mas o que fazer com o cão?
Esse questionamento é mais comum do que você imagina, afirmam
os médicos, mas esqueça todos os conselhos de que deve se livrar do seu cão.
“Eu penso bastante, mas não me passa pela cabeça ficar sem a Kika”, diz Mariana
Amaral, 30 anos, grávida de 14 semanas e “mãe” da poodle há quatro. A maior
dificuldade que terá é desalojar a cachorra, que dorme no quarto que vai ser do
bebê. “Estou indo aos poucos, para ela não ficar enciumada. Já tirei a caminha,
mas não tudo.”
Mariana está no caminho certo. É importante mesmo estabelecer
algumas regras antes de o bebê chegar, como os locais em que o cão poderá
entrar, dormir e ficar. Alguns médicos recomendam que eles não frequentem os
quartos. Os portões do tipo divisória são boas alternativas.
Limpeza é outro item primordial. Além dos cuidados com a casa
(use luvas ao mexer com fezes e xixi e depois lave as mãos, sempre), o cão
precisa estar limpo. Banhos semanais bastam. Não esqueça de manter em dia
vacinas, vermífugo (uma vez ao ano) e antipulgas (uma vez por mês) – e de lavar
semanalmente a cama e os panos que ele usa.
A última mudança, e talvez a mais difícil, é se distanciar um
pouco do bicho. Quando o bebê chegar, você, naturalmente, vai dar mais atenção
para ele, e o cão vai ficar de lado. Então é importante prepará-lo já. Por
exemplo: quando for assistir a TV, deixe-o onde estiver em vez de chamá-lo para
ficar junto.
Ao mesmo tempo, ajude-o a integrar essa nova família que está
se formando. Se comprar uma roupinha, diga “olha, essa daqui é para o bebê”, e
permita que ele cheire. Mônica Lotuffo, que aparece no começo dessa reportagem,
além de grávida e dona de cachorro também é veterinária e conta que indica – e
pratica – a técnica da recompensa com seus cães.
Quando vai colocá-los para fora do quarto e eles vão, dá um
petisco. “No dia em que eu voltar da maternidade, meu marido vai entrar em casa
com a nossa filha para eu dar atenção a eles, que vão estar ansiosos, já que
terei passado uns dias fora.” Outra dica dela é aproveitar a hora do banho de
sol e levar os cães para passear. Tudo para eles associarem o bebê a coisas
boas.
Ao voltar da maternidade, faça uma grande festa, deixe que
ele cheire os pezinhos do bebê e dê um petisco. Nas primeiras semanas o cão
pode querer chamar sua atenção, fazendo necessidades no local errado.
“Não dê bronca. Recolha e continue as atividades do seu dia a
dia. Mais tarde, dê um pouco de carinho”, afirma Mauro Lantzman, veterinário,
especialista em comportamento animal e professor de psicobiologia da PUC-SP.
Todas as grávidas e a mãe desta reportagem só têm
expectativas boas sobre a convivência de seus filhos com os bichos de
estimação. “Acho que a criança que tem desde cedo uma animal por perto aprende
muito sobre o respeito ao outro, o cuidado com um ser mais frágil e conhecem um
amor que é incondicional”, diz Fabia Leme, de 29 anos, grávida de 26 semanas de
Anna Julia e dona dos shi-tzus Beatle, 2 anos, e Janis, 1. “Eu não vejo a hora
deles três se conhecerem. Vai ser muito gostoso!”
“Eu não tenho e quero um!”
Se você está grávida e pensa em adotar ou comprar um cão
agora, talvez seja o caso de esperar até seu bebê ter pelo menos 1 ano.
“Adaptar um cachorro novo às regras da casa pode exigir fôlego, e nesse momento
as prioridades são outras”, afirma Viviane Monteiro, ginecologista e obstetra
da Clínica Perinatal (RJ).
Como esse é um momento muito delicado, a chance da adaptação
ser complicada é grande. “É preciso ter cautela. Você precisa de tempo e muita
vontade de ter um animal de estimação, além de imaginar como vai ficar sua vida
com um recém-nascido. Às vezes as pessoas não pensam nisso e o resultado é o
grande número de cachorros abandonados”, diz a psicóloga Hannelore Fuchs.
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