Interrupção da gravidez antes das 20 - 22
semanas de gestação ou expulsão do feto com menos de 500gr. Pode ser espontâneo
ou provocado (quando medicamento ou manobra, o induziu).
Incidência
15% de todas as gestações terminam espontaneamente entre a 4ª e 20ª semana de gestação. Antes de 4 semanas estas cifras são mais elevadas (40a 45%), porém não se faz o diagnóstico.
15% de todas as gestações terminam espontaneamente entre a 4ª e 20ª semana de gestação. Antes de 4 semanas estas cifras são mais elevadas (40a 45%), porém não se faz o diagnóstico.
Em ¾ das observações os abortos são precoces
(até 12 semanas) e, na parcela restante, rotulado tardio (após 12 semanas).
Etiologia
Causas embrionárias ou fetais:
- Cromossomopatias (principal causa de abortamentos precoces);
- Ovopatias.
Causas
maternas
- Ginecopatias;
- Doenças Sistêmicas;
- Infecções;
- Fatores Hormonais;
- Mecanismos Imunológicos;
- Traumatismos e outros.
Propedêutica
- Presença de gravidez (História Clínica, ßHCG e USG);
- Volume uterino (USG e Toque combinado);
- Perdas Vaginais (sangramento ou partes fetais);
- Características cervicais (dilatação);
- Exame especular (constatar a origem intra-uterina do sangramento).
Exames
complementares
- Tipagem Sanguínea - Hemograma completo (rastrear perdas e processo infeccioso);
- Beta HCG sérico;
- Ultra-sonografia (vitalidade do concepto, presença de restos ovulares, idade gestacional);
Diagnóstico
diferencial
- Doença Trofoblástica Gestacional;
- Gravidez ectópica;
- Patologias benignas do trato genital inferior (lacerações do colo ou vagina, erosões cervicais, pólipos);
- Patologias malignas (que causem sangramento, principalmente do colo uterino).
Tipo de
abortamento
👉Ameaça
de aborto
Sangramento genital de intensidade variada e
dor em baixo ventre.
Ao exame: colo fechado, útero de volume
compatível com a idade gestacional.
👉Abortamento
em curso
Sangramento genital e dor pélvica tipo cólica
(ambos de intensidade variável).
Ao exame: fundo uterino compatível com idade
gestacional, colo uterino dilatado, tocando-se por vezes parte do ovo.
👉Aborto
incompleto
Perda sanguínea e dor tipo cólica (ambos de
intensidade variável).
Ao exame: colo uterino aberto, identificação
de restos ovulares ao toque, fundo uterino menor que o esperado para a idade
gestacional.
👉Aborto
Completo
História clínica retrospectiva: paciente
informa sangramento e cólicas, expulsão de material embrionário e logo após
diminuição ou cessação da sintomatologia.
Ao exame: colo uterino fechado, útero menor
que o esperado para a idade gestacional, sangramento ausente ou em dedo de
luva. Diagnóstico confirmado através de ultrassonografia.
👉Aborto
retido
Na maioria das vezes, achado
ultra-sonográfico. Paciente pode referir desaparecimento abrupto dos sinais e
sintomas próprios da gravidez.
Ao exame: útero pode se apresentar compatível
ou menor que o esperado para a idade gestacional; sangramento se presente,
discreto; colo fechado.
Em gestações incipientes se aconselha a
realização de ultrassonografia e dosagem sérica de Beta HCG seriados para
confirmar o diagnóstico (tempo em que a maioria dos casos se resolve
espontaneamente).
👉Aborto
infectado
Qualquer das formas do abortamento,
acompanhadas por febre, fluxo vaginal com odor fétido e dor à mobilização
uterina.
Podemos também observar: Sudorese e
calafrios, Taquicardia, Taquisfigmia e Taquipnéia; Cianose; Icterícia;
Agitação; Hipotensão e Choque, dependendo da gravidade.
O útero geralmente se encontra amolecido;
poderá haver sinais de irritação peritonial (abdome agudo infeccioso). Grito de
Douglas - pensar em abscesso em fundo-de-saco.
Tratamento
Ameaça
de aborto
→Tratamento ambulatorial exceto em situações
de sangramento de vulto.
Aconselha-se: repouso, abstinência sexual,
antiespamódicos caso necessário, apoio emocional.
Abortamento
em curso
→Internamento, Tipagem Sanguínea - Hemograma
(rastrear perdas e processo infeccioso);
→Repor perdas, caso necessário;
→Promover analgesia;
Aguardar evolução do trabalho abortivo,
procurando assim evitar a dilatação instrumental do colo uterino,
principalmente nos abortos tardios (superiores a 12 semanas), só se praticando
o esvaziamento uterino após a expulsão do concepto. Se paciente Rh Negativo,
administrar, imunoglobulina Anti-D (300 microgramas IM).
Aborto
incompleto
- Internamento;
- Tipagem Sanguínea - Hemograma (rastrear perdas e processo infeccioso);
- Repor perdas, caso necessário;
- Esvaziamento uterino.Se paciente Rh Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D.
Aborto
completo
→Expectação em nível ambulatorial.
Aborto
retido
- Internamento, em gestações superiores a 12 semanas, realizar estudo da coagulação;
- Indução do trabalho abortivo;
- Esvaziamento uterino, que só deve ser realizado após a expulsão do concepto, caso a gestação seja superior a 12 semanas;
- Se paciente Rh Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D (300 microgramas IM).
Aborto
infectado
- Internação;
- Solicitação de Exames: Hemograma Completo, Tipagem Sanguínea, Estudos da Coagulação, Sumário de Urina; Uréia, Creatinina, Bilirrubinas (total e frações), nos casos mais graves (suspeita de peritonite e/ou septicemia);
- Punção de veia de grosso calibre com agulha calibrosa (reposição de líquidos e hemoderivados caso necessário);
- Cateterismo vesical com sonda de Foley nos casos mais graves;
- Hidratação com Solução Fisiológica 0,9% (manter diurese > 30 ml/hora);
- Iniciar antibioticoterapia de largo espectro (anaerobicida + aminoglicosídeo, caso necessário acrescentar ampicilina - ação contra enterococos);
- Providenciar esvaziamento uterino de acordo com a evolução do quadro abortivo;
- Administrar substâncias ocitócicas com a finalidade de promover um esvaziamento uterino mais seguro;
- Manter terapia endovenosa por 24 a 48 horas após o último pico febril;
- Quadro febril persistente pensar em complicações clínicas (antibioticoterapia inadequada, tromboflebite pélvica) e cirúrgicas (perfuração uterina, abscessos);
- A laparotomia deve ser reservada para casos graves (massas anexiais, perfuração uterina, sepse, gangrena uterina), sempre pensar na possibilidade da realização de histerectomia total e por vezes pode também se tornar necessário a ablação dos anexos;
Aguardar evolução do trabalho abortivo,
procurando assim evitar a dilatação instrumental do colo uterino,
principalmente nos abortos tardios (superiores a 12 semanas), só se deve
manipular a cavidade uterina após a expulsão do concepto.
Se paciente Rh
Negativo, administrar, imunoglobulina Anti-D (300 microgramas IM).
Indução
➡MISOPROSTOL - 200mcg (1 comprimido) por via
vaginal a cada 6 horas; procurar depositar o comprimido no fundo do saco
posterior;
➡OCITOCINA - 20 U (4 ampolas) associadas em
500 ml de solução fisiológica ou glicosada a 5%, infundindo 8 gotas/min,
aumentando 4 gotas a cada hora até se atingir a atividade contrátil uterina.
Observação: extrema cautela durante a
utilização de substâncias ocitócicas, principalmente naquelas pacientes com
história de cicatriz uterina anterior.
Técnicas
de esvaziamento uterino:
Curetagem
uterina
Realizada manualmente, com a introdução dos
dedos indicador e médio envolvidos em gaze através do colo uterino, procurando
remover restos placentários.
Indicada em casos de abortos tardios com útero
volumoso e permeabilidade total do colo uterino. Na maioria das vezes se torna
necessário a complementação com curetagem mecânica.
Curetagem
mecânica
- Esvaziamento vesical;
- Posição adequada;
- Anestesia;
- Assepsia e anti-sepsia da genitália;
- Toque bimanual (volume e posição do corpo uterino, condições cervicais);
- Inserção de especulo, exposição e pinçamento do colo uterino;
- Dilatação instrumental do colo, caso necessário (Velas de Hegar); - Utilização da pinça de restos;
- Seleção das curetas;
- Raspagem no sentido horário;
- Retirar a cureta o menos possível;
- Atenção para o fundo uterino e cornos uterinos;
- Empunhadura cuidadosa da cureta;
- Uso de uterotônicos;
- Anatomia Patológica em casos suspeitos de doença trofoblástica gestacional.
Aspiração
manual intra-uterina (AMIU)
Método de preferência para a prática do
esvaziamento uterino, importante passo para a Humanização do tratamento do
aborto;
Em relação à curetagem mecânica, apresenta as
seguintes vantagens:
- Possibilidade de ser realizada em nível ambulatorial;
- Menor tempo de hospitalização;
- Mais rápida;
- Menos traumática;
- Menor incidência de perfuração;
- Menor sangramento;
- Menor incidência de infecção.
Histerotomia
Indicação restrita a casos extremos onde
exista impossibilidade de esvaziamento através do colo uterino; mortalidade
maior em 44 vezes quando comparado com dilatação e curetagem no primeiro
trimestre.
Complicações
- Perfuração uterina (1;111 a 1:2500);
- Lacerações cervicais;
- Lesões estruturais do Orifício Interno do colo uterino;
- Dano ao endométrio;
- Sinéquia uterina;
- Infecção.
Conduta na perfuração uterina
- Não manipular com pinça de restos;
- Concluir a curetagem delicadamente;
- Utilizar substâncias ocitócicas;
- Monitorizar a paciente clinicamente e laboratorialmente (hemograma);
- Antibioticoterapia profilática;
- Caso apresente sinais de abdome agudo a laparotomia é indicada com a finalidade de se praticar a histerorrafia e pesquisar lesões em órgãos vizinhos.
- Quando necessário o esvaziamento pode ser completado através da lesão uterina antes de se praticar a histerorrafia.
Antibioticoterapia no aborto
infectado/antibiótico dose administração duração:
➡Gentamicina 1,5 mg/kg a cada 8 horas EV, IM -
7-10 dias
➡Clindamicina 600 a 900 mg a cada 6 horas EV -
7-10 dias
➡Amicacina 15 mg/kg/dia a cada 12 horas IM, EV
- 7-10 dias
➡Metronidazol 500 mg a 1 g a cada 6 horas EV -
7-10 dias
➡Ampicilina 1 g a cada 6 horas EV - 7-10 dias